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Reporteres sem fronteiras

Concentração geográfica

A geografia dos maiores grupos de mídia

De onde parte o comando das redes de informação e mídia brasileiras?

Nosso levantamento permitiu verificar uma concentração geográfica significativa da localização das matrizes dos grupos de comunicação: 19 dos 26 grupos analisados (73%) têm suas sedes na Região Metropolitana de São Paulo, a grande maioria desses na cidade de São Paulo. Em seguida, nessa hierarquia de comando da mídia brasileira, viria a cidade do Rio de Janeiro que, embora só abrigue um dos grupos, é o maior de todos: o Grupo Globo. Brasília, capital política do país, aparece logo após São Paulo no número de matrizes de empresas, com três.

Esses 26 grupos são os proprietários dos 50 veículos ou redes que compõem o universo investigado pelo MOM Brasil. Ao analisar a localização das matrizes desses 50 veículos ou redes, o dado é similar: são 62% na cidade de São Paulo e 12% no Rio de Janeiro. Em seguida, há 10% em Porto Alegre, 6% em Belo Horizonte e 4% em Brasília.

A chamada “Região Concentrada” do país (correspondente ao Sul e Sudeste, na divisão regional do IBGE) concentra 80% dos escritórios de comando dos grupos que controlam os 50 maiores veículos de mídia nacionais.

Consequências à diversidade e ao pluralismo

A centralização do comando da mídia de grande alcance em uma cidade traz consequências à diversidade e pluralidade de visões, imagens e ideias em circulação. As decisões editoriais, as prioridades de pauta e as representações de imagem e de cotidiano presentes na mídia são majoritariamente marcadas pela concentração em São Paulo e também no Rio de Janeiro, graças ao papel central do Grupo Globo na mídia nacional.

Ainda que esses grandes grupos se articulem com os grupos de mídia regionais – de grande importância e com vínculos políticos destacados nos lugares –, a maior parte do conteúdo, da agenda e das decisões de maior impacto ao trabalho midiático parte dos grupos baseados na “Região Concentrada” .

Assim, essa concentração das matrizes dos grupos produz uma hierarquia no território brasileiro entre lugares que comandam a mídia, a produção e circulação das informações e o restante do território.

São Paulo e o comando da informação

Os dados reforçam um entendimento histórico sobre as desigualdades e hierarquias no território brasileiro. Um dos elementos novos é o papel central do comando das redes da informação para hierarquizar o espaço. Com a ascensão da importância das diversas atividades baseadas em informação – mídia, finanças, consultorias e tantas empresas de informação estratégica – a cidade de São Paulo se reorganizou para atuar como um centro de comando do restante do território brasileiro.

São Paulo hoje abriga os principais centros decisórios das grandes empresas, os principais agentes do mercado financeiro, as atividades de consultoria estratégica e o comando da mídia. É um dos três principais “centros de gestão do território brasileiro”, termo criado por Roberto Lobato Corrêa e adotado hoje pelo IBGE. Os três maiores centros de comando das redes de informações do território brasileiro, que distribuem ordens que reorganizam todo o território, são: São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Além dessa concentração em poucos centros urbanos, também nota-se a importância da chamada “Região Concentrada”. A divisão do país em quatro “Brasis” – Região Concentrada, Nordeste, Centro-Oeste e Amazônia – foi proposta pelos geógrafos Milton Santos e Maria Laura Silveira no início da década de 2000, justamente para evidenciar as características e desigualdades do território nacional nesse contexto de maior importância das redes, da informação e do mercado financeiro.

Texto publicado em outubro de 2017.

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